quarta-feira, 7 de março de 2018

PROFISSÃO, PROFESSORA!


Ao aproximar-se o dia 08 de março precisamos conversar sobre esta profissão, majoritariamente feminina, pois ao falar sobre a docência diversas questões são levantadas, mas raramente são citadas as questões de gênero que envolvem a profissão.
A atividade docente tem predominância feminina e ao analisar-se a história do magistério, consegue-se perceber que é incorporado na profissão elementos ideológicos da domesticidade e submissão da mulher.
Façamos uma breve análise da história da educação no Brasil:
Até o ano de 1827 com a primeira legislação específica sobre o ensino primário no Brasil, conhecida como Lei Geral, as mulheres não tinham direito a frequentar escolas, tendo acesso apenas a educação religiosa nos conventos ou casas de recolhimento. Com a Lei Geral as mulheres passaram a ter direito a educação, ainda que em escolas segregadas; haviam escolas e currículos específicos para moças e rapazes, sendo o currículo feminino voltado basicamente às “Prendas domésticas”. Também foi nesse período que as mulheres começaram a dar aulas nas escolas, pois os educadores deveriam ser do mesmo sexo dos estudantes.
A Lei de Ensino foi um marco nos direitos das mulheres à educação, ao mesmo tempo que evidenciava as desigualdades de gênero pois além das escolas e currículos diferentes, elas não tinham direito ao Ensino Superior e o salário das mestras era inferior ao recebido pelos mestres, sendo que elas estavam isentas de ensinar geometria e tal disciplina era critério para estabelecer níveis salariais.
Por não terem acesso ao Ensino Superior a única forma das moças continuarem seus estudos era na Escola Normal que formava professores, logo o número de moças superou o de rapazes nesses cursos.
Na segunda metade do século XIX surgiu o pensamento da “vocação natural” da mulher para o magistério, sendo que elas, como era afirmado, inclusive por médicos, eram dotadas de mais coração e ternura, considerados qualidades essenciais para o exercício da profissão.
Na atualidade, segundo o censo do professor de 2007, 97,9% das professoras das creches são mulheres, nos anos finais do Ensino Fundamental elas representam 74,4% dos profissionais e no Ensino Médio 64,4%. Os números se invertem no Ensino técnico e Superior, onde os homens são maioria com 53,3% contra 46,7% e 55% contra 45% respectivamente. Embora as mulheres tenham 58% dos diplomas de pós-graduação, são minoria entre os professores dos níveis mais elevados de ensino. Os números aqui apresentados se refletem no salário, sendo que onde a presença feminina é maior os salários são menores, o que demonstra, como em outras categorias, a desvalorização do trabalho feminino.
Estes dados evidenciam o quanto as mulheres ainda precisam lutar para garantir um patamar de igualdade com os homens. Por isso, é necessário lembrarmos que o dia 08 de março, o Dia Internacional da Mulher, não é um dia de comemorações e sim de lutas.



                                                                                                   Sandra Tolfo
                                                                                                   Florianópolis, março de 2017

Fontes:

Um olhar na história: A mulher na escola (Brasil: 1549 – 1910) Maria Inês Sucupira Stamatto – Programa de Pós-Graduação em Educação – UFRN; publicado no site:
http://sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe2/pdfs/Tema5/0539.pdf

Algumas Questões sobre o Magistério: Estudos sobre Mulher e Educação – Cristina Bruschini e Tina Amado – Cadernos de Pesquisas; Fundação Carlos Chagas; São Paulo; publicado no site: https://www.geledes.org.br/algumas-questoes-sobre-o-magisterio/

A feminização do magistério: considerações iniciais – Adriano Senkevics; publicado no site: https://ensaiosdegenero.wordpress.com/2011/12/05/a-feminizacao-do-magisterio/