segunda-feira, 23 de maio de 2011

Reconhecer nossas cicatrizes

Recebi este texto de um amigo que faz mestrado na Argentina e decidi compartilhar com vocês.

Reconhecer nossas cicatrizes

Já transcorrem 35 anos desde o final da ditadura militar na Argentina, conhecida como “Revolução Argentina”. E como os militares se referiam constantemente nesse período: “A revolução Argentina tem objetivos, mas não prazos”. Parece-nos que estavam certo. Como se o prazo estivesse sido prolongado, poucas sociedades no mundo vivem ainda suas feridas com tanta intensidade como a sociedade argentina.
Por sorte, estão caminhando por novos “trilhos”. Caminhos estes que hoje possibilita a qualquer cidadão (isso incluem turistas) a conhecer um dos principais palcos desse regime, a Escola de Mecânica Armada – E.S.M.A.
Nessa instituição, localizada numa das regiões mais ricas e bonitas da capital Buenos Aires, foi um verdadeiro cenário de guerra, em que passaram em torno de cinco mil presos políticos.(referente ao total de trinta mil desaparecidos).
Quando se vive à experiência de conhecer um lugar, que faz jus a um campo de concentração nazista, o mínimo que um ser humano sente é indignação e um mal estar sem procedentes.
Ali jovens eram soldados e eram prisioneiros. Dentre muitíssimas histórias que o guia narrava, certamente conhecer o Setor 4 (porão) onde eram realizadas as “entrevistas”, “as boas vindas” e de onde se realizavam os “translados”,que em geral, nada mais significa que a sentença de morte. É um momento que nos vem uma sensação que nos torna frágil e inevitavelmente nos coloca frente a algumas verdades humanas, sobre os processos políticos e “civilizatórios” que nossas sociedades, ao redor de todo mundo, por algum momento aderem, oficialmente ou não ao chamado Terrorismo de Estado.
Saber que ali, nasceram humanos, que foram seqüestrados, e que suas mães e pais morreram e muitos de seus filhos até hoje sequer sabem de suas origens, saber que religiosos(as) contrários ao regime eram escravizados, que jornalistas arriscavam a vida para adentrar nas “veias”do regime, que foi capaz de ENGANAR a Comissão Internacional de Direitos Humanos. Observar as lágrimas de alguns visitantes é no mínimo uma experiência desnorteadora. Presenciar o compromisso de alguns deles,os que conseguem, em não mais se calar frente suas feridas, ainda tão vivas.
Sim por que ali, entre jovens, estrangeiros e comunidade local, havia sobreviventes do regime, que conseguiam falar, e outros que você podia sentir, mas que se comunicavam apenas com os olhos, como se não pudessem lidar com esse passado, sem uma imensa tensão, desconfiança e dor.
A E.S.M.A está sendo preservada a ponto de que fotos internas de prédios chaves são proibidas, porque, apesar de terem sofridos mudanças físicas ao longo dos anos, eles servem como provas concretas nos julgamentos dos envolvidos nos desaparecimentos- mortes.
A Argentina está julgando seus militares, por que sabe que precisa cicatrizar essa ferida, como sociedade, precisa se recriar, reconhecer sua história e fazer jus a palavra Justiça. Processos sociais intensos, provenientes da sociedade civil têm ocorridos, desde adentro dessa sociedade e tem pressionado e tido respaldo por setores do Governo e do judiciário. (O caso das Mães da Praça de Mayo, em busca de justiça, é sem dúvida um dos movimentos sociais, mais eficazes e reconhecidos internacionalmente). O que de alguma forma nos coloca frente, ao surgimento de uma nova maneira da sociedade pensar em si mesma.
Claro que não se trata de dizer que isso ocorre com os quarenta e dois milhões de argentinos, mas prova que iniciaram um processo, a maneira deles, em suas possibilidades e limites. O que nos implica, como brasileiros, toda essa história?
Talvez também buscar nos reorganizar enquanto sociedade como nos vemos, nossas feridas parecem mais cicatrizadas que as argentinas é verdade, nossa realidade é um tanto diferente, mas feridas são sempre feridas, se não provocam mais a dor intensa do ato de rasgar a pele, permanecem vivas, na memória, toda vez que olhamos para elas. O que nos coloca a enfrentá-las, não nos esquecermos dos milhares que lutaram por nossas liberdades, dos movimentos de democratização (MDB de Chico Mendes, Juventude de Elis Regina, Chico Buarque, Raul Seixas e tantos outros tantos) do que pensavam enquanto sociedade, fazer jus a nossa característica tão valorável fora do Brasil, de manter o sorriso, sem deixar de lutar por dias melhores. O tipo de sociedade que queremos, passa necessariamente pelo conhecimento de nossa história e nosso entender sobre nós mesmos e nossas feridas. Todavia, marcas ainda não reconhecidas, frente a um congresso (felizmente minoria) ainda representado com convictos defensores de uma sociedade limitada em seus direitos humanos.       

  
                                                                                                           Victor Caglioni
Argentina, 21 de Maio de 2011

sábado, 12 de fevereiro de 2011

AS REVOLUÇÕES DOS POVOS ÁRABES FURACÕES PARA A DITADURA... BRISAS PARA A DEMOCRACIA E LIBERDADE


Os ventos revolucionários que assopraram no mês passado na Tunísia fez seu ditador, Benali, fugir do país. Covardemente fugiu. O poder agora está com  uma Frente Progressista que produziu, organizou e   administrou o estado revolucionário na Tunísia, formação que se deu durante o ditadura de Benali. Ventos que atravessaram  as turbulentas águas da Tunísia, chegando são e salvo na margem da democracia e liberdade.
Os mesmos ventos revolucionários assopram agora  sobre Egito. Arrancaram a casca que escondia um ditador, brotando no lugar uma organizada e madura frente de libertação liderada por jovens que nasceram durante a ditadura. Viveram e sentiram, com experiência própria, que este modelo falido não leva a progresso nenhum. O regime esta tão podre que não adiante reformas ou emendas, esta ditadura, que perdura na contramão da historia, leva o  Egito ladeira abaixo. Nos últimos  30 anos, o Egito ficou em primeiro lugar no mundo árabe no ranking da emigração de  jovens. Milhares de jovens tiveram que sair do seu país por falta de emprego,  perdendo, assim, energia e mentes lapidadas para servir em outros países.
Durante 30 anos este regime ditador deixou o Egito em um desfalque enorme de moradias populares, revelando que o regime não tinha nenhum interesse na solução de moradias para o seu  povo. Os cemitérios mostraram a maior disputa no meio da população pobre,  pois lá, vizinhos de  cadáveres, não se paga aluguel e não tem ordem de despejo.
Enquanto esse cenário obscuro progredia, também  progredia a situação financeira do chefe
do regime, o ditador Hosni Mubarak e seus capangas, uma equação injusta... sua  fortuna subiu de  zero em 1980 para 70 bilhões em 2011, ou seja, dentro dos 30 anos enquanto ele manipulava o poder,
Mas  por 15 dias  a  Praça TAHREER  faz valer o significado de seu nome, traduzindo , significa   LIBERTAÇÃO, são os ventos revolucionários embalando os rebelados egípcios!!
Admiramos como esses revolucionários egípcios se manifestam e se organizam! São mais de 3 milhões de pessoas, cotidianamente, realizando protestos de forma ordeira e organizada. Utilizando a mídia, internet, comunicações alternativas, gente de todas as classes sociais unidos no grito e nas tarefas. Há os responsáveis pela limpeza, outros pela distribuição da comida, tem o grupo de médicos cuidando dos feridos, tem aqueles responsáveis pela distribuição da medicação, enfim,  todos realizam suas atividades  e tarefas  com a maior obediência e satisfação. Cabe aqui contar o que aconteceu na quinta feira, quando surgiu boato de que os tanques do exercito acabar com as manifestações. A reação foi há altura dos ventos revolucionários... foi destinado vários homens para dormir embaixo da esteira do tanque paralisando assim  sua movimentação!
A revolução da Tunísia tanto quanto a revolução Egípcia pegaram o ocidente de surpresa, pois ninguém imaginava algo nessa proporção, desconsiderando assim o potencial da mudança dos dois povos, resultando em  declarações confusas sobre os acontecimentos.
Alguns lideres ocidentais, com mentalidade colonialista, negam a condição  de um árabe em praticar corretamente a democracia ....esquecem eles que a democracia é originária da Grécia antiga, não americana e nem  européia.
Nos orgulhamos da diversidade do povo brasileiro! Imaginamos o dia em possamos nos orgulham da diversidade internacional! Quando houver  uma real democracia que abrace a todos .
E difícil para ocidente, com sua política capitalista e imperialista, entender as mudanças no mundo árabe ou islâmico. É necessário modificar sua visão, para entender e aceitar o árabe como ele é,  produto da sua cultura e sua civilização.
Duas grandes divergências azedaram as relações do Ocidente com o mundo árabe e islâmico. A primeira: a posição injusta de adotar dois pesos e duas medidas na questão palestina. Somente os Estados Unidos utilizou  37 vezes o direito de veto quando o Conselho da Segurança da ONU iria condenar Israel por seus crimes praticados contra os palestinos e árabes.  A segunda: a demagogia praticada pelo ocidente. Com  pregações de  liberdade e  democracia na mídia internacional, se comporta  sustentando e apoiando politicamente as ditaduras do Oriente Médio.
Os ventos revolucionários significam furacões para as ditaduras, para o sionismo, para o capitalismo e o imperialismo....  mas são as brisas para a autodeterminação dos povos, para  a democracia e para a  liberdade!

por Khader Othman - kaderothman@hotmail.com 
Comitê Catarinense de Solidariedade ao Povo Palestino
Fevereiro de 2011

domingo, 30 de janeiro de 2011

LIMONADA SUIÇA

Sentada em um bar em Blumenau, na tentativa de espantar o calor, pedi uma limonada suíça. O sabor dessa bebida remeteu-me à Bolívia em um minuto, ao primeiro gole.
Vi-me frente aos vendedores, carregando dentro de baldes, garrafas cheias de um líquido claro, quase transparente. Ouvi suas vozes altas, potentes, anunciando em som claro: “Limonada, limonada”.
Quando ouvi a primeira vez a palavra limonada, pensei na minha casa. “Eis algo que conheço” – pensei – “bebida brasileira, refrescante”. Pedi. Queria sentir um sabor conhecido naquelas terras distantes.
Surpreendi-me, pois a limonada boliviana é diferente da nossa. É, sem dúvidas, a melhor que já bebi.
Não sei a que atribuir o sabor diferenciado. Talvez à magia das terras bolivianas e seus habitantes doces e de olhares profundos; talvez ao simples fato de ser preparada com uma espécie de limão que eu não conheça; talvez, talvez.
Aqui sentada na noite quente de Blumenau, bebendo minha limonada, senti profundamente o que minha mente já sabia que não será mais possível para eu beber uma limonada, em qualquer parte do mundo, sem remeter-me instantaneamente à Bolívia, com seus cheiros, cores e sabores especiais.
As pessoas me olham de forma estranha, por certo estão pensando que sou uma maluca sorrindo para meu copo de limonada. Eu me divirto, pois sei o motivo do meu sorriso. Sorrio para ti, Bolívia. Sorrio para tua força, para a resistência de teu povo, de teus heróis.
Sorrio para ti, Bolívia! Sorrio para ti.

                                                           
Blumenau, 28 de janeiro de 2011.
Sandra Tolfo

sábado, 29 de janeiro de 2011

NOITE CÁLIDA

Na cálida noite
Pálida, cálida.
Faltava você!
Seu calor, sua cor, sua voz.
Faltava você amor.
E sua falta se fez silêncio
Doendo em meus ouvidos.
Ferindo-me por dentro,
Dilacerando meu peito.
Faltava você amor.
E o silencio de sua falta doia,
Na cálida noite,
Pálida, cálida.


Blumenau, 28 de janeiro de 2011.
Sandra Tolfo

TEMPO

As pessoas passam 
Apresadas
Atrasadas
Atarefadas
As pessoas passam
No tempo que para.


Blumenau, 28/01/2011
Sandra Tolfo 

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

MENINA MULHER

Ela nunca pode ser menina
Nunca os sonhos de menina
Nunca a irresponsabilidade de menina
Nunca menina

Mulher desde menina
Aprendeu cedo as responsabilidades da vida
Teve que aprender a cuidar de si própria
Ela ainda menina, com vontades de menina
Precisando ser mulher

Nunca a irresponsabilidade de faltar na escola
De matar aula por pura preguiça
De poder se permitir ao erro
Nunca a chance da entrega

A lucidez da mulher na imagem de menina
A coragem de mulher no corpo frágil de menina
A menina virando mulher
Ou a mulher virando menina?

INSÔNIA

Estou cansada, cheguei de viagem hoje e estou cansada, mas paradoxalmente, não consigo dormir.
O sono parece que fugiu de mim, os olhos teimam em ficar abertos e de fato eu não quero dormir.
Na verdade queria não precisar dormir nunca. Nunca mesmo. Quanta coisa poderia fazer se não dormisse?
Quantas horas do meu dia eu passo dormindo? Quantas?
Vocês já pararam para pensar em quantas coisas poderiamos fazer se não precisássemos dormir?
Quantos livros poderiamos ler? Quantos filmes? Quantas músicas? Quanta gente conheceríamos? Quantos amigos visitaríamos?
Eu penso sempre nisso. Como seria bom não precisar dormir. Tenho tantas coisas para fazer e poderia fazê-las se não "perdesse" tempo dormindo.
Ou será que na verdade não fariamos nada disso? Eu não faria nada disso?
Talvez, se não dormisse, encontraria outras coisas sem sentido para fazer e deixaria as que gostaria de fazer sem serem feitas. Talvez não seja falta de tempo, mas apenas enrolação do tempo.
Enfim, devaneios, nada mais que devaneios, e embora não queira, preciso ir dormir.