sexta-feira, 24 de abril de 2020

Adeus, Atahualpa!


Atahualpa entrou na minha vida em uma tarde de dezembro de 2007, era uma bola de pelos pretos, tão pequenininho que cabia nas palmas das minhas mãos. Aquele cachorrinho era tão lindo e tão frágil, quem poderia adivinhar que ele se tornaria um cachorro tão inteligente, tão feliz, que viveria tantas aventuras e conquistaria tantos amigos, bichos e humanos. Ganhou até um livro com os registros dos seus feitos, quem poderia imaginar uma coisa dessas.
Naquele primeiro dia eu já soube que teríamos uma forte ligação, que seríamos amigos de muitas aventuras. Atahualpa se tornou meu companheiro diário nas tardes de trabalho, quantas dias eu precisa ficar com meus pés inertes para que ele pudesse dormir, como ele gostava de dormir em cima dos meus pés.
Em alguns dias de pouco trabalho nós ficávamos brincando por muito tempo, ele até aprendeu a falar em uma dessas brincadeiras.
Enquanto Atahualpa crescia eu ficava cada vez mais encantada com ele, não era um simples cachorro, só quem o conheceu vai entender isso.
O Atahualpa mudou de casa, depois mudou de cidade, ficamos distantes mas ele nunca esqueceu de mim e nem das nossas brincadeiras. Sempre que nos encontrávamos era uma festa, uma alegria sem tamanho.
Hoje eu soube que ontem o Atahualpa partiu, minha bolinha de pelos virou estrelinha. Estou sentindo uma dor enorme pois nunca mais vou ouvir seus latidos, nunca mais vamos brincar com seus bichinhos, nunca mais ele vai correr e pular em mim, ficar me lambendo e chorando de felicidade por estarmos novamente juntos. Eu sinto tanta saudades e nunca mais vai passar. Meu amiguinho de quatro patas, te amarei pra sempre.


Atahualpa, presente!


Blumenau, 24 de abril de 2020

quarta-feira, 7 de março de 2018

PROFISSÃO, PROFESSORA!


Ao aproximar-se o dia 08 de março precisamos conversar sobre esta profissão, majoritariamente feminina, pois ao falar sobre a docência diversas questões são levantadas, mas raramente são citadas as questões de gênero que envolvem a profissão.
A atividade docente tem predominância feminina e ao analisar-se a história do magistério, consegue-se perceber que é incorporado na profissão elementos ideológicos da domesticidade e submissão da mulher.
Façamos uma breve análise da história da educação no Brasil:
Até o ano de 1827 com a primeira legislação específica sobre o ensino primário no Brasil, conhecida como Lei Geral, as mulheres não tinham direito a frequentar escolas, tendo acesso apenas a educação religiosa nos conventos ou casas de recolhimento. Com a Lei Geral as mulheres passaram a ter direito a educação, ainda que em escolas segregadas; haviam escolas e currículos específicos para moças e rapazes, sendo o currículo feminino voltado basicamente às “Prendas domésticas”. Também foi nesse período que as mulheres começaram a dar aulas nas escolas, pois os educadores deveriam ser do mesmo sexo dos estudantes.
A Lei de Ensino foi um marco nos direitos das mulheres à educação, ao mesmo tempo que evidenciava as desigualdades de gênero pois além das escolas e currículos diferentes, elas não tinham direito ao Ensino Superior e o salário das mestras era inferior ao recebido pelos mestres, sendo que elas estavam isentas de ensinar geometria e tal disciplina era critério para estabelecer níveis salariais.
Por não terem acesso ao Ensino Superior a única forma das moças continuarem seus estudos era na Escola Normal que formava professores, logo o número de moças superou o de rapazes nesses cursos.
Na segunda metade do século XIX surgiu o pensamento da “vocação natural” da mulher para o magistério, sendo que elas, como era afirmado, inclusive por médicos, eram dotadas de mais coração e ternura, considerados qualidades essenciais para o exercício da profissão.
Na atualidade, segundo o censo do professor de 2007, 97,9% das professoras das creches são mulheres, nos anos finais do Ensino Fundamental elas representam 74,4% dos profissionais e no Ensino Médio 64,4%. Os números se invertem no Ensino técnico e Superior, onde os homens são maioria com 53,3% contra 46,7% e 55% contra 45% respectivamente. Embora as mulheres tenham 58% dos diplomas de pós-graduação, são minoria entre os professores dos níveis mais elevados de ensino. Os números aqui apresentados se refletem no salário, sendo que onde a presença feminina é maior os salários são menores, o que demonstra, como em outras categorias, a desvalorização do trabalho feminino.
Estes dados evidenciam o quanto as mulheres ainda precisam lutar para garantir um patamar de igualdade com os homens. Por isso, é necessário lembrarmos que o dia 08 de março, o Dia Internacional da Mulher, não é um dia de comemorações e sim de lutas.



                                                                                                   Sandra Tolfo
                                                                                                   Florianópolis, março de 2017

Fontes:

Um olhar na história: A mulher na escola (Brasil: 1549 – 1910) Maria Inês Sucupira Stamatto – Programa de Pós-Graduação em Educação – UFRN; publicado no site:
http://sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe2/pdfs/Tema5/0539.pdf

Algumas Questões sobre o Magistério: Estudos sobre Mulher e Educação – Cristina Bruschini e Tina Amado – Cadernos de Pesquisas; Fundação Carlos Chagas; São Paulo; publicado no site: https://www.geledes.org.br/algumas-questoes-sobre-o-magisterio/

A feminização do magistério: considerações iniciais – Adriano Senkevics; publicado no site: https://ensaiosdegenero.wordpress.com/2011/12/05/a-feminizacao-do-magisterio/ 

sábado, 7 de setembro de 2013

VIDA

Nascer
Crescer
Trabalhar
Envelhecer
Morrer
Eh vida besta!

quarta-feira, 13 de março de 2013

A RAÇA BORNHAUSEN

Compartilho excelente texto do amigo Raul Longo.




Talvez ainda se lembrem de quando Jorge Bornhausen propôs acabar com a raça do PT por 30 anos. Não conseguiu nem por um dia, mas ficou muito brabo com o Prof. Emir Sader porque o acusou de racista. E foi a juízo.
Força do hábito pela justiça daqui sempre dar ganho de causa pro velho Coronel. Mas a nível nacional a coisa é outra e o juiz favoreceu a lógica da conclusão do Sader, provavelmente em consideração às ciências antropológicas que conferem aos antropoides alguns espécimes de diferentes raças, entre elas a humana. Uma única raça com diversidades em suas origens étnicas.
Considerando que o PT é uma agremiação humana, não há sentido algum em se referir aos agremiados sob a sigla como raça. Além do que, quem expressa intenção de acabar com uma raça por qual seja o motivo, não somente se assume racista como se denota um genocida em potencial.
A acusação do Sader foi abalizada pela justiça e o Coronel perdeu pela evidência da lógica. Perdeu no Brasil, porque aqui em seu feudo a raça Bornhausen se prolifera pra todo lado, cotidianamente segregando a população humana de Santa Catarina.
O governo do feudo é do Bornhausen e a administração da sede também é do Bornhausen. Dessa vez diretamente, pois governador e prefeito são do mesmo partido: o ex-DEM/PFL/ARENA/UDN. Mas em todos demais siglas políticas há Bornhausen inseminado. Tanto que nas últimas eleições foi apoiado pelo PSOL e até nos da “raça” do PT catarinense já houve surtos, com ameaças de decapitações e incidências de interesses comuns.
Se no resto do país a raça Bornhausen vem se extinguido em sucessivas derrotas eleitorais, aqui assombra cada vez mais como aconteceu nesta manhã à senhora de 62 de idade no terminal de transporte urbano do centro, ao regressar de uma viagem ao Brasil.
Como se sabe, no Brasil instituições públicas e privadas têm demonstrado algum interesse em oferecer atendimento mais humano aos contribuintes e usuários. Uma dessas formas é a de isentar pessoas com mais de 60 anos do pagamento de tarifa de transporte público. 
Isso causou constrangimento ao monopólio do transporte coletivo dessa Transilvânia e se viram obrigados a estipular a idade mínima de 65 anos para a mesma isenção.
Consciente da realidade do feudo em que vive há uma década e meia onde diariamente utiliza o transporte coletivo, a senhora pagou a passagem para poder passar pela catraca de entrada do Terminal Urbano do Centro, ao lado do Rodoviário.
A despeito do aumento populacional de Florianópolis, o monopólio do transporte coletivo continua nas mãos das mesmas companhias que mantém praticamente o mesmo número de veículos em circulação há duas décadas, com redução de algumas linhas. Mas depois de pagar o acesso às plataformas do terminal os passageiros têm o direito de escolher para onde queiram ser transportado como gado. No entanto, cansada da longa viagem interestadual e procurando evitar que sua bagagem incomodasse os demais passageiros pendurados aos balaústres, a senhora dirigiu-se ao cobrador solicitando o direito de usar a entrada da frente do coletivo para poder se acomodar em um dos poucos assentos exclusivos para idosos, todos desocupados.
Isso de assentos destinados a idosos não pagantes é outra coisa que revolta sobremaneira os bornhausens das companhias de transporte coletivo e ela explicou já ter pagado para passar pela catraca de entrada do terminal. Mesmo assim, o constrangido cobrador argumentou que por normas da empresa ela precisaria pagar duas vezes. Sem outra opção a aposentada se deixou lesar no valor de uma viagem a mais. Viagem que não fez, mas pagou. E desconfiou...
Não sem razão. Afinal, três anos a mais ou a menos em que interferem a respeito de assentos vazios, ainda que teoricamente reservados aos idosos?
Pelo telefone confirmou serem mesmo as normas da empresa, pois, conforme a atendente, se entrasse a fiscalização no percurso da viagem, teriam problemas.
É de se imaginar o vexame: ônibus lotado e o fiscal achegando-se aos cabelos brancos da senhora: “- E aí guria! Mostre seus documentos e se não tiver completado 65 anos vai lá pra trás. Tens de viajar em pé porque aqui não é lugar de fedelhas!”
Mas se pagar duas vezes a passagem de uma única viagem, pode. Qual a lógica?
Suponha-se uma situação: adentra pela frente do ônibus meia dúzia de skinheads (jovens de mentalidade bornhausiana) e pagam por vinte viagens de ida e volta. Nesse dia todo idoso do hipotético bairro terá de viajar em pé: “- Aí coroa! Ninguém mandou chegar nos 80. Nóis só tem 20, mas temo dinheiro pra arrematar os assento só pra vê tu te fodê aí pendurado. Te agarra na bagagem se não quiser dar de cara no chão!”
Haveria muito mais a contar sobre o deficitário transporte público de Florianópolis, das absurdas normas da TRANSOL – Transportes Coletivos, a maior empresa do loteamento das linhas urbanas desta cidade, ou das demais; mas a intenção aqui não é de tentar provocar alguma melhoria nas relações humanas entre instituições privadas e públicas com seus usuários e contribuintes catarinenses, pois se sabe perfeitamente que Brasil é do brasileiros e este feudo de Santa Catarina é do Bornhausen e sua raça.
Não há o que o plebeu catarinense possa fazer a não ser deixar de eleger os espectros do mesmo grupo a cada dois anos. Mas como, se todos os políticos daqui são do Bornhausen?
Empresários também e, pela inutilidade e por ser exaustivo, resume-se essa exposição apenas ao relato de como a mesma usuária que no Brasil não precisou pagar por nenhum transporte urbano e nem mesmo pelo interestadual, aqui teve de pagar por duas viagens para utilizar uma única sem incomodar ninguém com sua bagagem.
Não se estenderá aqui por considerações sobre tarifas mais altas do que as do Brasil para percursos bem menores e um serviço disponibilizado em média de espera de 40 minutos à uma hora, que se designa como sistema de transporte integrado apesar de nordeste a noroeste desta ilha estreita se ter de aguardar igual tempo por cada um dos três ônibus que interligam distâncias comparáveis às da Barra Funda à Baixada do Glicério em São Paulo ou do Flamengo à Ipanema no Rio de Janeiro. Se tanto!
Divulgar as realidades deste feudo ao Brasil não promoverá melhoria nas relações humanas catarinenses e apenas o que se pretende com essa exposição é oferecer uma contribuição à zoologia para a compreensão do comportamento e dos processos de reprodução e disseminação da raça Bornhausen.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

SOU PROFESSORA

Quando criança eu acompanhava com muita atenção as questões ligadas à educação no país e queria ser professora, para ajudar a construir o país dos meus sonhos. Um país com justa e igual distribuição de renda, sem corrupção, onde educação, saúde e segurança pública de qualidade não seriam apenas projetos, mas sim realidade.
Era com tristeza que eu acompanhava cada luta dos meus professores para conseguirem um salário melhor, para conseguirem manter o mínimo de dignidade na sua profissão, tão necessária para a construção do país do futuro.
Como estudante de escola pública sentia na pele o descaso governamental com a educação. Era a merenda que não tinha qualidade (isso quando não faltava), era a falta de material didático para as aulas, a falta de bibliotecários nas escolas, a falta de laboratórios, falta de espaço adequado para realização das aulas de educação física e artes, os problemas sérios de infraestrutura, isso sem contar que a cada início de ano faltavam professores e nós ficávamos com aulas livres, e quando professores eram contratados, muitas vezes não tinham formação específica, o que prejudicava muito a qualidade do ensino.
Sonhadora que sou, e não me envergonho de tal coisa, esperava que um dia a educação fosse prioridade para algum governo, e a cada eleição eu assistia atentamente o que os candidatos estavam propondo, e era sempre a mesma história, “a educação estará em primeiro lugar em meu governo”, mas quando assumia o mandato, que nada, os problemas permaneciam como antes, ou ainda pioravam. Mas eu queria acreditar que um dia poderia ser diferente, e continuava sonhando.
Eu vi diversos programas de governo serem criados, diversas leis serem aprovadas, mas nunca vi um governo que tenha colocado de fato a educação como prioridade.
Cresci, e mesmo sabendo que enfrentaria diversos problemas, tornei-me professora. Estou em meu terceiro ano de magistério, e na minha segunda greve. Continuo acompanhando atentamente as questões ligadas a educação pública brasileira, agora do outro lado, e vejo os mesmos problemas repetirem-se ano após ano e o povo calar-se, e os professores e estudantes aceitarem calados e amedrontados uma educação de faz de conta.
Faz-se necessário mais uma vez discutirmos o papel da educação, das escolas e dos professores. Precisamos discutir os motivos dessa nova greve do magistério catarinense, que é sim a luta pelo cumprimento integral da Lei 11.738/2008, conhecida como Lei do Piso, que estabelece em seu artigo 2º, parágrafo 1º que o piso é vencimento inicial das carreiras do magistério, também pelo cumprimento do acordo firmado pelo governo com a categoria durante a greve de 2011, mas é antes de tudo a luta por uma escola pública, gratuita e de qualidade para todos. Essa greve é a demonstração da indignação dos profissionais da educação com o descaso enfrentado diariamente dentro das unidades educacionais no estado de Santa Catarina, não é apenas uma questão salarial, pois a atual situação da educação em Santa Catarina pode ser descrita em apenas uma frase: Ano novo, problemas velhos!
Essa greve é mais uma vez, a luta dos professores comprometidos com a qualidade da educação pública, que buscam valorização profissional e respeito, não apenas para consigo, mas também para com seus alunos, que continuam enfrentando os mesmos problemas que eu vivenciava quando estudante.
Eu continuo me perguntando, como fazia quando criança. Até quando?
Continuo ouvindo promessas. Promessas de investimentos para o próximo ano, de melhorar o salário no ano que vem, de resolver o problema da falta de professores – que continua se repetindo no início de cada ano letivo –, de melhorar as condições de trabalho nas escolas, etc, etc, etc. Mas estou farta de promessas. Aprendi desde cedo que aqueles que não se levantam e lutam por seus direitos nunca os alcançarão. Por isto estou em greve.
Continuo sonhando com um país melhor para todos, e sei que isto passa, invariavelmente pela educação. Sei que pela educação passa a solução dos problemas sociais mais sérios enfrentados no país, especialmente o de segurança pública, pois já dizia o filósofo grego, Pitágoras: “Eduquem os meninos que não será preciso punir os homens.”
Eu sempre acreditei que um povo só é livre quando tem conhecimento. Pois um povo com conhecimento não se permite enganar facilmente, não aceita calado os malefícios que lhe são impostos e busca seus direitos. Mas isso não é interessante a alguns que querem manter-se no poder a todo custo, que querem continuar dominando o povo com facilidade. A estes, interessa manter a situação da educação do jeito que está, pois não é conveniente que o povo saia de sua ignorância e inércia intelectual e política. A estes interessa que os professores continuem calados, e que o povo continue acreditando que está tudo bem, pelo simples fato de não haver greve, pois pouco importa se a educação é de qualidade, o que interessa mesmo é que os alunos estejam dentro das escolas, ocupados com qualquer coisa, que de preferência não os ensine a ter um pensamento crítico. A estes, que ano após ano se perpetuam no poder, interessa jogar a opinião pública contra os professores, transformando-os em irresponsáveis baderneiros, que querem prejudicar os alunos, desvirtuando assim o foco do debate que deveria ser sobre a educação.
Estou em greve e não sou baderneira! Sou ao contrário, integrante da profissão que pode levar o país do futuro a um futuro de prosperidade e igualdade para todos, não apenas para um pequeno grupo.
Sou professora por vontade e continuarei sendo por sonho e teimosia.


Blumenau, 24 de abril de 2012.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

DESCULPAS QUE NÃO COLAM


Diante de declarações e entendimentos que parecem querer preparar um clima de conformismo ou de aceitação de uma solução que não atende ao Projeto FURB FEDERAL, precisamos enxergar com clareza por que se trata de desculpas que não colam.

Desculpa 1:
"Conseguir uma federal em Blumenau é muito bom, mesmo que não inclua a FURB".
Não cola porque criar um campus da UFSC ou uma universidade que não inclua a FURB não é bom.
Algumas das razões:

1. É um dispêndio a toa de recursos públicos (a FURB pode oferecer já 20.000 vagas sem investimento, e com um orçamento anual de 150 milhões, enquanto que, por exemplo, a nova Universidade Federal de Fronteira Sul precisa um orçamento de 200 milhões e tem apenas 3500 alunos). Isto é tão evidente que até o Reitor da UFSC se nega a aceitar criar um campus da UFSC em Blumenau.
2. Uma vez que outro Campus da UFSC afetará fortemente a FURB, acabará diminuindo as atividades de Ensino Superior, Pesquisa e Extensão. Isto porque a FURB terá imensas dificuldades em manter seu status de Universidade (com pesquisa, extensão, mestrados e doutorados), enquanto que o campus da UFSC irá com muita parcimônia buscando um terreno, construindo uma sala, abrindo um curso, contratando um professor. Nesse processo, teremos uma universidade pronta minguando, uma universidade nova sendo edificada e a população apenas esperando.

Desculpa 2:
"Federalizar a FURB pode criar um precedente perigoso".
Não cola porque não cria precedente, e se criasse não seria um precedente ruim.
Algumas das razões:

1. Uma das razões mais fortes para federalizar a FURB é o fato de que ela já é uma universidade pública. Ela funciona como instituição pública não apenas nos objetivos que atende, mas na sua forma jurídica e processos internos. A FURB faz concursos públicos, compra por licitação, tem colegiados de universidade pública, etc. Só não tem financiamento público. O caso da FURB é único, portanto não é o boi que abre o buraco pelo qual passa uma boiada.
2. Caso alguém insista em dizer que a FURB abre um precedente, este seria um precedente fantástico para o Brasil. É um precedente de uma comunidade regional que sem financiamento governamental criou uma instituição pública e a entregou ao Estado uma vez pronta, madura, prestando serviços e administrando com eficiência recursos que vem do privado e se tornam públicos sem que o Estado tenha que cobrar impostos para isso. Esse é sim um precedente que o Estado gostaria de ver pipocar.
3. Há outro precedente, é verdade. O povo na rua lutando por educação pública e de qualidade com pesquisa e extensão, ou seja, por uma instituição dedicada a servir às pessoas da Região, do Estado e do Brasil. Realmente, esse é um precedente que para alguns é perigoso.


Luciano Félix Florit
Doutor em Sociologia
Professor Departamento de Ciências Sociais e Filosofia da FURB
Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional

domingo, 19 de junho de 2011

A EDUCAÇÃO PEDE SOCORRO


Estamos vivenciando uma onda de greves de trabalhadores em educação por todo o país. Com isto, mais uma vez problemas históricos são colocados em evidência, e volta-se a debater o tema educação em várias instâncias da sociedade e alguns questionamentos são refeitos. Infelizmente nada de novo existe nesta situação, entra ano e sai ano, entra governo e sai governo, e nenhuma medida efetiva é tomada para a solução dos problemas educacionais. 
Entre os maiores problemas vivenciados hoje na educação, está a falta de professores e contínua desvalorização daqueles que ainda atuam em sala de aula – problemas estes que são os que mais afetam a qualidade do ensino, pois a desvalorização aliada à sobrecarga de trabalho (uma grande parcela dos professores da rede estadual de ensino hoje trabalha 60 horas semanais, ou seja, manhã, tarde e noite, para minimamente conseguir sobreviver), falta de tempo e dinheiro para se qualificar e preparar bem as aulas, leva os professores à desmotivação e consequentemente prejudica suas aulas, prejudicando diretamente aos alunos. 
Eu poderia elencar aqui cada um dos problemas enfrentados diariamente por trabalhadores em educação e pelos estudantes nas nossas escolas, mas vou falar sobre as greves dos profissionais do magistério, em especial do magistério catarinense, ao qual pertenço. 
Por que falar sobre a greve em Santa Catarina? 
Por ser esta uma greve atípica. Os professores das escolas públicas estaduais catarinenses estão em greve desde o dia 18 de maio, não para reivindicar aumento salarial, não para reivindicar melhores condições de trabalho, mas para reivindicar o cumprimento de uma lei federal. Que lei é esta? A lei 11.738/08, lei do piso nacional do magistério, que institui – finalmente, depois de décadas de luta – um piso nacional inicial na carreira dos profissionais em educação, 1/3 de hora atividade para os professores e o mês de janeiro como a data base da categoria. A referida lei foi votada e sancionada em 2008, quando já passou a vigorar, porém os governadores de cinco estados, entre eles Santa Catarina, entenderam que a lei era inconstitucional e entraram com uma ação direta de inconstitucionalidade da mesma, durante dois anos, período em que a ação tramitou na justiça; Valendo-se de uma liminar favorável a ele, o governo de Santa Catarina não pagou o piso aos seus professores. Até que no dia 06 de abril de 2011 o Supremo Tribunal Federal – STF, instância máxima da justiça brasileira, julgou a lei constitucional, obrigando então aos cinco estados o pagamento do piso nacional aos seus professores. A vitória no STF veio de alguma maneira aliviar o fardo da desvalorização dos professores, que ano após ano foram sendo obrigados a suportar um aluno a mais na sala, um pouco mais de trabalho, um dia letivo a mais, um pouco menos de salário. Sentimo-nos finalmente respeitados e valorizados. No entanto, o governo catarinense continua sem pagar o piso, e alega não ter condições financeiras de fazê-lo, respeitando nossa carreira e demais direitos financeiros já adquiridos. Tal atitude levou-nos a entrar em greve, para que o governo do Senhor Raimundo Colombo, cumpra essa lei, e pague o que nos é de direito. 
Desde o dia 18 de maio, cerca de 80-90% dos professores estão em greve, aguardando uma proposta coerente do governo, que respeite a lei do piso de forma integral e não mexa em nossos direitos anteriormente adquiridos, o que até o momento, infelizmente não aconteceu, obrigando-nos a continuar em greve. 

Muitas pessoas questionam a greve com a justificativa de que os estudantes ficam sem aulas, perdem conteúdo, mas o interessante é que a maioria dessas pessoas não se preocupa com isso nos demais períodos, pois as crianças estão sendo cuidadas dentro das escolas e creches. Os alunos merecem respeito, merecem sim ter suas aulas, porém merecem ter aulas de qualidade, em escolas de qualidade e com professores motivados, o que passa, sem dúvida nenhuma, pela melhoria salarial dos profissionais do magistério, pela sua valorização, bem como, por melhorias nas unidades escolares, e uma reforma no sistema educacional, tornando deste modo, as escolas mais agradáveis e as aulas mais interessantes. Só assim é possível evitar a evasão escolar e a reprovação, além de tornar as nossas crianças e adolescentes mais bem preparados para enfrentar a vida e serem cidadãos críticos, construtores de uma sociedade mais humana. 
Não podemos continuar levantando os problemas apenas em épocas de greve, não dá mais para continuarmos vendo o desmonte da escola pública, através da desvalorização dos profissionais, do sucateamento, da terceirização de serviços escolares antigamente realizados por funcionários públicos, a desqualificação de muitos professores contratados, por não terem formação alguma na disciplina que estão ministrando. Entra governo e sai governo e pouco, ou nada, é feito para tentar mudar esse cenário. Mas o discurso sobre a necessidade de melhorar a qualidade de ensino, de as escolas públicas, de valorizar os professores, este impera. 
A educação no Brasil pede socorro! 
Chegou a hora de debatermos o tema com seriedade, chega desse jogo de faz-de-conta. Pois afinal de contas, é fato sabido por todos que muitos problemas sociais enfrentados hoje no Brasil seriam extremamente reduzidos, caso se investisse na educação. Mas por que não se investe? A quem interessa manter as coisas da maneira que estão? E por que esse descaso existe apenas nas escolas públicas, onde estudam os filhos dos pobres? 
Deixo essas perguntas no ar, para reflexão. E termino parafraseando Gabriel, O Pensador: “Até quando você vai ficar levando? Porrada, porrada. Até quando vai ficar sem fazer nada? Muda essa postura!”